Hoje
Estar só. Dia de sol bonito. Não sair de casa. Fazer tarefas simples. Cuidar das plantas, mexer na terra. Ficar à toa. Ouvir Chico. Pensar em ler, e vagar pela casa. Ver um programa sobre fotografia na TV. Sentir saudades de alguém que vai voltar. Acender um incenso. Lavar vasilhas. Deitar e rolar na cama. Escutar o silêncio. Deixar o tempo passar.
Só possibilidades
Sobre aquilo que te fala ao coração
Se deparar com uma verdade muito profunda, que você talvez até desconheça o seu caminho pelas vias racionais, mas simplesmente pressente que é uma verdade, é algo muito, muito dolorido, e difícil.
É dolorido porque o ser humano possui um ego, um “sei lá o quê” que precisa ser constantemente alimentado por, talvez, falsas verdades. E difícil porque, se você pressente que faz sentido, você vai querer ir até o fundo dela, e esse caminho não é simples, e muito menos fácil.
Eu ouvi uma verdade hoje. Uma verdade quase cruel, para os padrões a que estou acostumada, a que estamos acostumados. Mas é uma verdade, e ela ressoou no meu peito. Então a recebo, e deixo ela aqui dentro de mim. Espero que o caminho dessa verdade seja frutífero. E isso é o máximo que posso pedir.
Agora as perguntas... Como dar algo profundo num mundo tão banal, que chega a beirar o ridículo? Acessar esse “si-mesmo” mais profundo, até vislumbro. Mas não vislumbro como colocar esse sujeito “encontrado” em relação com o meio.
Não vislumbro, não sei como agir, não sei o que fazer, não sei como lidar com essa verdade que pode se desenvolver e desabrochar e pedir para comunicar.
Mas por incrível que pareça não tenho medo. Tenho outra coisa que não sei o nome. Não é nada que me impede o caminhar.
E talvez por agora só isso baste.
É dolorido porque o ser humano possui um ego, um “sei lá o quê” que precisa ser constantemente alimentado por, talvez, falsas verdades. E difícil porque, se você pressente que faz sentido, você vai querer ir até o fundo dela, e esse caminho não é simples, e muito menos fácil.
Eu ouvi uma verdade hoje. Uma verdade quase cruel, para os padrões a que estou acostumada, a que estamos acostumados. Mas é uma verdade, e ela ressoou no meu peito. Então a recebo, e deixo ela aqui dentro de mim. Espero que o caminho dessa verdade seja frutífero. E isso é o máximo que posso pedir.
Agora as perguntas... Como dar algo profundo num mundo tão banal, que chega a beirar o ridículo? Acessar esse “si-mesmo” mais profundo, até vislumbro. Mas não vislumbro como colocar esse sujeito “encontrado” em relação com o meio.
Não vislumbro, não sei como agir, não sei o que fazer, não sei como lidar com essa verdade que pode se desenvolver e desabrochar e pedir para comunicar.
Mas por incrível que pareça não tenho medo. Tenho outra coisa que não sei o nome. Não é nada que me impede o caminhar.
E talvez por agora só isso baste.
Outra passagem
a de Augusto Boal, no dia 2 de maio.
Para o Dia Mundial do Teatro - 27 de março de 2009 - ele disse assim:
"Todas as sociedades humanas são espetaculares no seu cotidiano, e produzem espetáculos em momentos especiais. São espetaculares como forma de organização social, e produzem espetáculos como este que vocês vieram ver.
Mesmo quando inconscientes, as relações humanas são estruturadas em forma teatral: o uso do espaço, a linguagem do corpo, a escolha das palavras e a modulação das vozes, o confronto de idéias e paixões, tudo que fazemos no palco fazemos sempre em nossas vidas: nós somos teatro!
Não só casamentos e funerais são espetáculos, mas também os rituais cotidianos que, por sua familiaridade, não nos chegam à consciência. Não só pompas, mas também o café da manhã e os bons-dias, tímidos namoros e grandes conflitos passionais, uma sessão do Senado ou uma reunião diplomática – tudo é teatro.
Uma das principais funções da nossa arte é tornar conscientes esses espetáculos da vida diária onde os atores são os próprios espectadores, o palco é a platéia e a platéia, palco. Somos todos artistas: fazendo teatro, aprendemos a ver aquilo que nos salta aos olhos, mas que somos incapazes de ver tão habituados estamos apenas a olhar. O que nos é familiar torna-se invisível: fazer teatro, ao contrário, ilumina o palco da nossa vida cotidiana.
Em Setembro do ano passado fomos surpreendidos por uma revelação teatral: nós, que pensávamos viver em um mundo seguro apesar das guerras, genocídios, hecatombes e torturas que aconteciam, sim, mas longe de nós em países distantes e selvagens, nós vivíamos seguros com nosso dinheiro guardado em um banco respeitável ou nas mãos de um honesto corretor da Bolsa - nós fomos informados de que esse dinheiro não existia, era virtual, feia ficção de alguns economistas que não eram ficção, nem eram seguros, nem respeitáveis. Tudo não passava de mau teatro com triste enredo, onde poucos ganhavam muito e muitos perdiam tudo. Políticos dos países ricos fecharam-se em reuniões secretas e de lá saíram com soluções mágicas. Nós, vítimas de suas decisões, continuamos espectadores sentados na última fila das galerias.
Vinte anos atrás, eu dirigi Fedra de Racine, no Rio de Janeiro. O cenário era pobre; no chão, peles de vaca; em volta, bambus. Antes de começar o espetáculo, eu dizia aos meus atores: - “Agora acabou a ficção que fazemos no dia-a-dia. Quando cruzarem esses bambus, lá no palco, nenhum de vocês tem o direito de mentir. Teatro é a Verdade Escondida”.
Vendo o mundo além das aparências, vemos opressores e oprimidos em todas as sociedades, etnias, gêneros, classes e castas, vemos o mundo injusto e cruel. Temos a obrigação de inventar outro mundo porque sabemos que outro mundo é possível. Mas cabe a nós construí-lo com nossas mãos entrando em cena, no palco e na vida.
Assistam ao espetáculo que vai começar; depois, em suas casas com seus amigos, façam suas peças vocês mesmos e vejam o que jamais puderam ver: aquilo que salta aos olhos. Teatro não pode ser apenas um evento - é forma de vida!
Atores somos todos nós, e cidadão não é aquele que vive em sociedade: é aquele que a transforma!"
Augusto Boal
Para o Dia Mundial do Teatro - 27 de março de 2009 - ele disse assim:
"Todas as sociedades humanas são espetaculares no seu cotidiano, e produzem espetáculos em momentos especiais. São espetaculares como forma de organização social, e produzem espetáculos como este que vocês vieram ver.
Mesmo quando inconscientes, as relações humanas são estruturadas em forma teatral: o uso do espaço, a linguagem do corpo, a escolha das palavras e a modulação das vozes, o confronto de idéias e paixões, tudo que fazemos no palco fazemos sempre em nossas vidas: nós somos teatro!
Não só casamentos e funerais são espetáculos, mas também os rituais cotidianos que, por sua familiaridade, não nos chegam à consciência. Não só pompas, mas também o café da manhã e os bons-dias, tímidos namoros e grandes conflitos passionais, uma sessão do Senado ou uma reunião diplomática – tudo é teatro.
Uma das principais funções da nossa arte é tornar conscientes esses espetáculos da vida diária onde os atores são os próprios espectadores, o palco é a platéia e a platéia, palco. Somos todos artistas: fazendo teatro, aprendemos a ver aquilo que nos salta aos olhos, mas que somos incapazes de ver tão habituados estamos apenas a olhar. O que nos é familiar torna-se invisível: fazer teatro, ao contrário, ilumina o palco da nossa vida cotidiana.
Em Setembro do ano passado fomos surpreendidos por uma revelação teatral: nós, que pensávamos viver em um mundo seguro apesar das guerras, genocídios, hecatombes e torturas que aconteciam, sim, mas longe de nós em países distantes e selvagens, nós vivíamos seguros com nosso dinheiro guardado em um banco respeitável ou nas mãos de um honesto corretor da Bolsa - nós fomos informados de que esse dinheiro não existia, era virtual, feia ficção de alguns economistas que não eram ficção, nem eram seguros, nem respeitáveis. Tudo não passava de mau teatro com triste enredo, onde poucos ganhavam muito e muitos perdiam tudo. Políticos dos países ricos fecharam-se em reuniões secretas e de lá saíram com soluções mágicas. Nós, vítimas de suas decisões, continuamos espectadores sentados na última fila das galerias.
Vinte anos atrás, eu dirigi Fedra de Racine, no Rio de Janeiro. O cenário era pobre; no chão, peles de vaca; em volta, bambus. Antes de começar o espetáculo, eu dizia aos meus atores: - “Agora acabou a ficção que fazemos no dia-a-dia. Quando cruzarem esses bambus, lá no palco, nenhum de vocês tem o direito de mentir. Teatro é a Verdade Escondida”.
Vendo o mundo além das aparências, vemos opressores e oprimidos em todas as sociedades, etnias, gêneros, classes e castas, vemos o mundo injusto e cruel. Temos a obrigação de inventar outro mundo porque sabemos que outro mundo é possível. Mas cabe a nós construí-lo com nossas mãos entrando em cena, no palco e na vida.
Assistam ao espetáculo que vai começar; depois, em suas casas com seus amigos, façam suas peças vocês mesmos e vejam o que jamais puderam ver: aquilo que salta aos olhos. Teatro não pode ser apenas um evento - é forma de vida!
Atores somos todos nós, e cidadão não é aquele que vive em sociedade: é aquele que a transforma!"
Augusto Boal
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